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Numa época em que estamos discutindo o processo de inclusão de portadores de necessidades especiais na escola, Professor Pacheco nos apresenta uma séria discussão sobre os termos especial, deficiente e dislexia.

Publicado em 18/08/2008

Dislexias
José Pacheco

Numa época em que estamos discutindo o processo de inclusão de portadores de necessidades especiais na escola, Professor Pacheco nos apresenta uma séria discussão sobre  os termos especial, deficiente, dislexia, às vezes colocados em uma mesma situação de forma depreciativa . Como integrar todo tipo de aluno aos diversos ambientes de aprendizagem? É a grande questão.

Volto ao questionável ato de rotular e tratar alunos como “deficientes”. Trago aqui dois episódios que podem ilustrar uma realidade oculta: há fenômenos de falta de comunicação em nossas escolas, cuja responsabilidade não deve ser imputada somente às escolas.

Bárbara é uma aluna com dislexia. A professora “especial” passa pela sala, duas vezes por semana. Mas já confessou que (afinal) “não é especialista em dislexias (sic) e que, portanto, pouco pode ajudar”… A professora dita “regular” diz que “faz o que pode, mas que não se esperem milagres, porque, com dezenove alunos mais uma “disléxica” na sala, o tempo não é suficiente para tudo”…

No meio da manhã, diz a professora para a “disléxica”: “Você vai ficar sem recreio, porque não consigo ler o texto que escreveu!”. Resposta pronta de Bárbara: “Você não consegue ler, mas eu consigo!”. Bárbara é disléxica, mas não é tola.

A dislexia existe! Há necessidade de identificar a dislexia a tempo, de modo que não se converta, definitivamente, num obstáculo ao sucesso e à realização pessoal. E, muito mais que identificar, é imperioso que um especialista, junto a uma equipe, dê resposta às Bárbaras. Porém, há casos e casos, e bem diferente é o caso do Tito.

Titinho (como a carinhosa mãe o chamava) chegou à escola acompanhado de um processo com cinco centímetros de altura. Eram relatórios de psicólogos, mais os dos psiquiatras especializados em crianças e jovens, mais os relatórios das professoras de educação especial, mais os dos médicos… Veredito: “disléxico”. Tratamento: dois anos sob orientação de uma professora “especial” mais três anos a trabalhar com fichas, no fundo da sala, que a professora regular não era entendida em dislexias.
Uma semana de ociosidade depois, o professor aproximou-se do moço:

– Então?... Desde que você chegou, ainda não fez nada.

O aluno não estava diagnosticado de autista, mas não respondeu. O mestre insistiu:

– E posso saber por quê?

O moço fez ouvidos de mercador.

– Não me ouviu? Posso saber por quê, Tito?

Aquele rapaz, às vésperas de completar doze anos de idade, enfim, reagiu:

– Eu sou Titinho! Não sou Tito! Você não sabe?

– Está bem, Tito. Mas diga-me por que não o vejo trabalhar como os outros meninos.

– Você não sabe?

– Não, não sei.

– Eu, na outra escola, também não fazia nada.

– Não?...

– Não. Só quando a tutora do especial ia lá é que eu fazia uns joguinhos.

– É isso?

– É. Está vendo? Eu não fazia nada. E você não pode me obrigar porque…

Esgotada a paciência, o professor interrompeu-o:

– Por que é que você não fazia nada na outra escola?

– Você não sabe?

– Já lhe disse que não.

– É que eu sou disléxico.

– Ah, você é disléxico? Eu sou Luís! E, agora, pegue esta folhinha e faça o que seu grupo tem no plano para você fazer.

Ficou de boca aberta e sem tempo para retorquir. Tito fez o trabalho que o grupo o ajudou a fazer (a pressão social justa e fraterna resulta sempre…), apesar de “trocar umas letrinhas”, como depois comentou, pedindo desculpa pelo que não devia. Perante a afável autoridade do professor e a persuasão exercida pelos colegas do grupo, restava a Tito escolher entre duas atitudes: ou fazia o trabalho ou fazia o trabalho… Optou por fazer o trabalho. Qualquer outro “disléxico” inteligente optaria por essa hipótese.
Imaginava o professor Luís o que se passava naquela cabecinha: “então o professor não sabe o que é um disléxico?” É claro que o professor sabia. Tanto sabia, que o Titinho – promovido a Tito pelo grupo – foi fazendo exercícios que o ajudaram a ultrapassar algumas dificuldades. Porém, não todas…

Tito pendurou seu casaco, jogando no chão casacos de colegas. O professor chamou-lhe a atenção. O “disléxico” respondeu: Não são meus!... Pois não eram, mas Tito apanhou os casacos do chão e pendurou-os nos respectivos cabides.

A mãe de Tito chegou, ao final do dia. Retirou do cabide o casaco do filho, provocando a queda de outro casaco, que estava pendurado num cabide adjacente. O professor fitou a senhora, insistentemente. Percebendo a recriminação no olhar do professor, a senhora exclamou: Não fui eu!....
O professor Luís afastou-se, sem dizer palavra, refletindo sobre as dislexias familiares, que fazem a infelicidade de muitos Titinhos

Numa época em que estamos discutindo o processo de inclusão de portadores de necessidades especiais na escola, Professor Pacheco nos apresenta uma séria discussão sobre os termos especial, deficiente e dislexia.

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